terça-feira, 29 de maio de 2007

Eu tenho uma namorada

Ilustração do Tacci do Portugal, Caramba!

Lá na escola há uma menina,
Muito linda e engraçada,
O seu nome é Carolina
E é minha namorada.

Ela anda de ganchinhos,
E de roupa cor de rosa,
Usa saia e sapatinhos
É bonita e vaidosa.

Eu sou sempre desgrenhado,
A calça com joelheira
O sapato maltratado
Pela muita brincadeira.

Ela gosta de bonecas,
De casinhas e da escola,
Eu gosto de bicicletas
De correr e jogar bola.

Muitas vezes temos brigas
Depois fazemos as pazes,
São estranhas as raparigas,
Tão diferentes dos rapazes.

Mas eu gosto muito dela
E ela gosta de mim
Namoramos à janela,
E já casámos no jardim.

Eu tenho uma namorada,
Que se chama Carolina,
É bem gira e engraçada,
Apesar de ser menina.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

A Branca de Neve is out there

A pedido de várias famílias, a sequela do Grande Êxito de Bilheteira
“A verdadeira História da Branca de Neve”
(ok, foi só a pedido de uma família... ‘tá bem, pronto, foi a pedido
de uma só pessoa, mas foi uma pessoa importante, ‘tá bem?
Foi a pedido do Luís do
Atirei o Pau ao Gato).

......

Ilustração do Tacci, do Portugal, Caramba!


...........
Se bem se recordam, prezados senhores, a Branca de Neve era uma menina pouco recomendável, dada a más companhias e comportamentos duvidosos.

Um dia o tiro saiu-lhe pela culatra e a Branca de Neve acordou muito maldisposta, numa cama desconhecida e com uma bata de bradar aos céus. Pelo amor de Deus!, um trapo daqueles nem para os pobres! Quem desenharia estas coisas, não haveria um estilista que fizesse algo mais apresentável para aquela gente? É o que dá, frequentar hospitais públicos! Povinho, credo!

O pai, um senhor algo volúvel e inconstante, visitou-a no Hospital. Chato como a potassa, não desamparava a loja! Foram vários os teores da sua conversa, a saber: que sofria muito, que não compreendia a filha, que lhe dera tudo, como pudera ela fazer-lhe tal coisa logo a ele, pai extremoso, que a culpa era dele, que se ia separar da madrasta, que a filha estava de castigo ad eternum, que não podia ver mais os Sete Anões, que...

Enfadada, a Branca de Neve distraiu-se com um jovem médico que por ali andava e que, há que dizê-lo com frontalidade, era um gato.

No dia em que o pai a levou do Hospital é que foram elas: cortou-lhe a mesada, controlou-lhe as saídas e os amigos e, pior de tudo, destacou-se a si próprio como cão de guarda e passou a andar sempre de roda dela, a representar o papel do pai preocupado e solícito. Uma seca! E já nem sequer tinha a madrasta para se entreter com umas sacanices à maneira...

Quando o médico lhe telefonou para a levar a jantar, a Branca de Neve estava à beira de uma ataque de nervos. Estava capaz de sair com o Frankenstein, desde que saísse!

Mas depressa viu as vantagens da situação. O jovem médico, idealista e romântico, metia a Branca de Neve num pedestal. Deslumbrado com a sua beleza, mimava-a de todas as formas e feitios. Levava-a a todo o lado, a restaurantes de luxo, a teatros e à Ópera (lugares que a Branca de Neve nunca frequentara, apesar da fama do pai de homem culto). Enviava-lhe rosas, tão brancas como o seu nome, oferecia-lhe jóias e vestidos, levava-a a passear pelo país e pelo estrangeiro... e, principalmente e acima de tudo, pagava tudo isto com um belíssimo cartão de crédito Gold. A Branca de Neve apaixonou-se!

E nem sequer lhe era muito difícil representar o papel da musa do jovem médico: bastava-lhe ser decorativa e o mais consumista possível. E, claro, manter-se longe das drogas, o que se revelou nem ser demasiado difícil. Andava tão distraída, com tanta coisa nova para ver e comprar... E depois, sem stress, se alguma vez não aguentasse a pressão, haveria sempre um comprimidinho milagroso para ajudar. De resto, o jovem médico tinha receitas por todo o lado e a Branca de Neve, claro, era perita em falsificar assinaturas.

De vez em quando assaltavam-na umas saudades dos dias aventurosos com os Sete Anões, em que partiam estádios, assaltavam bombas de gasolina e snifavam coca. Mas pronto, não se pode ter tudo, e a vida com o jovem médico até nem era nada má. Tudo bem pesado, a Branca de Neve lá se dispôs a dar o nó.

Quem ficou por demais orgulhoso foi o pai da Branca de Neve. Quem o ouvir ficará a saber como ele, pai exemplar, criou uma filha sozinho e a tornou num ser humano extraordinário, noiva linda e colunável de um doutor de excepção. E claro, se alguém tiver a falta de gosto de lhe recordar os conturbados meses de juventude, ele dirá só, à laia de confidência, que nada como o apoio da família (leia-se pai dedicado), para ultrapassar os problemas da adolescência.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Foi por te amar...

Ilustração do Tacci, do Portugal, Caramba!

Olá pequenina. És tão bonita. Olha, podes continuar a dormir, eu vou-te levar à tua mamã. Vá, fica sossegadinha, o meu colo é muito bom. É melhor que o da tua mamã, sabes? Podes encostar a cabeça, eu tomo conta de ti. Olha, queres um chupa? Toma, é de morango.
Tens uns cabelos tão lindos, tão lindos... Não, não tenhas medo, estava só a sentir o teu cabelo, é tão macio e tão loiro! Não precisas de ter medo, estamos quase a chegar, já vais ver a tua mamã... É bonita, a tua mamã, é uma senhora bonita, não é? Assim como tu. Isso, estás-te a portar muito bem. Estamos quase a chegar. Paramos aqui um bocadinho, está bem? Vamos descansar só um bocadinho. Olha, deita-te aqui, bem junto a mim. Encosta-te aqui, para eu te sentir.
Tens uns cabelos tão lindos... Era capaz de mexer nos teus cabelos para sempre. Cheiram tão bem, os teus cabelos! Os cabelos dos crescidos não cheiram tão bem, sabes pequenina? Não, não chores, pára! Não grites, não é preciso. Não te quero fazer mal, gosto muito de ti. És tão linda, tão macia... nunca te poderia fazer mal... Pára, estás a fazer barulho. Vá, pequenina, não te quero fazer mal, eu só faço coisas boas, estás a ver? Não são boas, as festinhas? Não chores, pequenina, olha, come o chupa e eu faço festinhas, assim, assim... eu só faço coisas boas, sabes? Porque é que choras, não gostas do que eu te faço? Não é bom?
A culpa é tua, pequenina, porque és demasiado bonita. Ninguém devia ser tão bonito. Como é que eu vou resistir, com uma coisinha como tu sempre a correr por ali, hã? A culpa é tua, e daquela tua mamã, que te deixa à solta. Eu sou melhor que a tua mamã, amo-te mais que a tua mamã. Eu não te deixo sozinha. Amo-te. Vá, pára de chorar, ainda me fazes zangar. Eu não me quero zangar, mas tu fazes-me zangar. A culpa é tua, sabes? És tão bonita. Se não fosses tão bonita... Vá lá, cala-te, CALA-TE... CALA-TE!
Eh, pequenina. Pequenina! Oh, merda, olha o que fizeste. O teu lindo cabelo, tão loiro e macio! Todo sujo e manchado de sangue. Vê o que fizeste! Acorda pequenina...
Porque é que não te calaste? Acorda, por favor. Não me deixes sozinho outra vez...

quarta-feira, 16 de maio de 2007

A verdadeira história da Branca de Neve

Ilustração do Tacci do Portugal, Caramba!

Era uma vez uma menina chamada Branca de Neve (para que não haja surpresas, aviso já que, no que se refere a ela, ‘menina’ é um eufemismo!).

Era uma criança encantadora... quanto lhe faziam as vontades! Se alguém a contrariava, aí é que eram elas! Era dada a birras, ataques de mau-humor, a má educação...

A Branca de Neve era muito, muito bonita e muito, muito provocante. Desde cedo aprendeu a fazer uso da sedução em detrimento da argumentação. E era muito vaidosa! Passava horas ao espelho, a ensaiar olhares, poses, sorrisos... Adorava perguntar à sua imagem no espelho:
“Espelho meu, espelho meu, há mulher mais bonita do que eu?”

Como poderão deduzir, a Branca de Neve era bastante mimada. Era daquelas crianças filhas de pais separados, que sempre se habituou a manipular os adultos com complexos de culpa, que a enchiam de presentes para compensar a falta tempo e de atenção.

O pai da Branca de Neve era muito conhecido. Era mesmo uma figura importante na época, com programas de televisão, crónicas nos jornais, um ou outro livro editado, enfim,... era considerado uma figura de destaque do mundo da cultura!

E tinha imenso mérito. Conseguia fazer tudo isto, e convencer milhões de fãs dos vários quadrantes, sem nunca ter lido um livro, sem ter entrado numa sala de teatro, sem nunca frequentar um museu... O pai da Branca de Neve era o maior e melhor bluff da época, e, à semelhança da sua filha, fazia da sedução uma forma de vida... e fazia-o bem.

Um dia, o pai da Branca de Neve arranjou uma namorada. Não é que ele não aranjasse namoradas de quando em vez, era exímio nisso, mas elas não resistiam mais que uns meses... a Branca de Neve encarregava-se disso.

Mas desta vez ele estava apaixonado, e ela também. Estavam resolvidos a fazer com que a coisa resultasse, até marcaram casamento e tudo!

E por isso, a namorada encheu-se de coragem e decidiu-se a enfrentar a fera... que é como quem diz, a Branca de Neve (que entretanto era uma adolescente manipuladora e mal-homurada, que só queria sair à noite e chumbava anos consecutivos)...

A namorada era uma rapariga inteligente e determinada. Ou seja, tentou todas as técnicas possíveis: tentou ser amiga da enteada, tentou impor regras e limites, tentou castigar, tentou ignorar as má-criações, tentou oferecer-lhe presentes, tentou a abordagem psicológica...

A Branca de Neve também punha em prática várias estratégias com a madrasta... em frente ao pai, era encantadora com ela. Nas costas do pai, fazia-lhe a vida negra... e na sua ausência, envenenava o pai com mentiras acerca da perfídia da madrasta, que a mal-tratava e que tinha inveja da sua beleza e juventude...

O pai, apesar da sua fama de homem culto e interessante, não primava pela inteligência. Deixava-se levar pelas manobras da Branca de Neve e cada vez mais tendia a culpar a namorada pelos insucessos escolares e pela rebeldia da filha... Afinal, a garota estava traumatizada pelo divórcio dos progenitores e pelo novo casamento do pai!

No dia em que lhe telefonaram do Hospital a comunicar que a filha estava em coma, com uma overdose, o pai ficou em estado de choque.

A polícia informou-o que a ambulância tinha sido chamada por uns rapazes de má fama, ao que parece amigos da Branca de Neve. Segundo a polícia, a filha pertencia a um bando de marginais, claque de um grande clube de futebol e conhecido em todas as esquadras dos arredores como os ‘Sete Anões’ (não que fossem pequenos, a alcunha referia-se mesmo à envergadura dos seus escassos neurónios!).

O pai ia tendo uma apoplexia! Separou-se da madrasta na hora, porque a menina, coitadinha, estava mesmo muito traumatizada!

Como vaso ruim não quebra, a Branca de Neve safou-se da overdose. E de caminho, engatou o jovem médico que tratou dela, um romântico incurável seduzido pelo ar ingénuo da Branca de Neve e por um sentido de missão: tirar aquela jovem das más vidas e más companhias.

Já a Branca de Neve, arrumado o caso “madrasta”, estava pronta para novos desafios na vida... e o caso “príncipe encantado”, leia-se jovem médico incorruptível, vinha mesmo a calhar...

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Os Dentes

Ilustração do Tacci, do Portugal Caramba!


Aos seis anos já sou grande,
Já não sou um bebezola,
Já tenho dentes dos novos,
Já tenho de ir à escola.

Hoje caiu-me mais um dente,
Que já estava a abanar,
Estou mesmo desdentado,
É a idade a aumentar.

Vou pôr o dente na cama,
Debaixo da almofada,
Vou esperar pela moeda,
Que me deixará a Fada.

A Fada dos Dentes vem,
À noite na escuridão,
Dá dinheiro pelo dente,
Já me deu um dinheirão.

Gosto muito de perder,
Os dentes de pequenito,
Estou mesmo mais crescido,
Mais esperto e mais bonito.